“A alma da caridade
Sabe endeusar a luz e adorar a verdade.
Vai a todo lugar, recôndito e diverso.
Não existe num mundo. Existe no Universo.” Guerra Junqueiro¹
Muito cremos que a Caridade, filha da Fé e irmã da Esperança, está no encontro com os desesperados, no lar do desventurado, na aflição do injustiçado, e na pobreza do miserável.
Cremos, outras vezes, que a Caridade está na mão que é estendida ao que pede pão e água, no diálogo fraterno com o que se sente solitário, no apoio imediato ao irmão necessitado.
Cremos sim, e também, que a Caridade está voltada aos que têm os rostos macilentos, prova dos angustiosos momentos de dor, de opressão, e de sofrimento…
Mas a Caridade, essa mensageira do Amor de Deus – e que é a essência do próprio Criador -, além de estar em tudo isso que já cremos, está igualmente na água límpida que visa purificar o lamaçal da ignorância; está na luz que almeja apagar a treva espessa da violência; e está na semeadura do amor à alma que ainda não sabe o sentido, e o verdadeiro valor.
É que a Caridade, verdadeira e desinteressada Caridade, se interessa por aqueles que sofrem a injustiça, mas busca também o que a injustiça comete, na condição de vítima do desconhecimento do que seja o Bem. Alivia o pobre, mas não faz distinção de quem o seja realmente pobre, pois sabe que a pobreza, a pobreza moral, muito mais que a material, invade casebres e, da mesma sorte, leva à ruína o interior que habita aos grandes palacetes.
Essa Caridade, a que Jesus, nosso Mestre e Senhor, vivenciou e exemplificou, visita “Madalenas” e “Zaqueus”, cura os cegos e leprosos, mas cura também os “Judas” e fortalece, na fé, os “Pedros”. Levanta as “adúlteras”, recolhe pedras das mãos dos “puros, que se notam pecadores”, confunde a falsa sabedoria dos fariseus, tal como de seus iludidos comparsas, os saduceus.
A Caridade, rota de salvação para todos os filhos de Deus, único caminho de redenção das almas transviadas e, justamente, ponte segura para os que já se vêm no bom roteiro, está em toda parte: no cume das montanhas, na profundeza abismal, no tribunal da Justiça divina, e no interior dos presídios amotinados…
Ela, enfim, a Caridade que aprendemos com o Cristo, está em tudo e em todos, pois reflete o que somos, ainda que não saibamos: o Amor, de nosso Criador.
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¹ XAVIER, Francisco Cândido, Parnaso de Além Túmulo, por Espíritos diversos. “Caridade”, de autoria do Espírito Guerra Junqueiro.