ALÇAR VOO

Era um vez um monarca que havia sido presenteado com dois falcões. As aves eram para ele como um refúgio diante de tantas preocupações. Gostava de ficar avaliando o voo, a astúcia da ave que não lutava contra a corrente do vento, mas que sabia aliar suas habilidades com as forças da natureza. Vez ou outra, enfim, admirava-se com os rasantes que anunciavam a busca pelo alimento, como se fosse ele próprio, o monarca, a glorificar-se com a presa entre as garras.

Mas uma coisa sempre incomodava o rei. Dos dois falcões que eram de sua propriedade, apenas um deles alçava voo. O outro, nunca saía de seu refúgio, de seu galho. E o proprietário ficava ali, divagando em seus pensamentos: – Por que será que meu outro falcão não voa, se não se apresenta doente, nem com algum membro que lhe incapacite as habilidades naturais?

Certo dia, então, chamou um de seus conselheiros e num breve diálogo, determinou que fosse trazido um mago, que deveria dar jeito no falcão que insistia em ficar tão somente acomodado em seu galho.

Feito como determinado pelo monarca, passado algum tempo, viu-se surpreso com os dois falcões a sobrevoarem o império. Ambos pareciam a música harmoniosa dos céus, unidos em perfeita sintonia nos movimentos graciosos das aves.

Curioso, questionou o rei ao conselheiro: – Que fez o mago para que o segundo falcão passasse a voar? Ao que lhe veio como resposta: – Simplesmente disse o mago que cortou o galho em que se acomodava o falcão; percebendo que tinha asas, lançou-se a voar.

Em analogia reflexiva, às vezes nos assemelhamos ao segundo falcão, pois prostramo-nos em nossos ‘galhos’ e esquecemos que temos ‘asas’ que nos permitem devassar o inexplorado em nossas vidas. Aninhamo-nos, assim, na condição anormal do comodismo, do parasitismo, do atrofiamento, que impede o lapidar de nossos espíritos nessa caminhada evolutiva.

Mas o homem há de conceber, cedo ou tarde, que há um horizonte de oportunidades a aguardá-lo. Um mar de alegrias e experiências que só fruirá aquele que ousar sacudir o jugo da inércia e ‘caminhar o bom caminho’.

Muitas ‘correntes de vento’, é verdade, tentarão impedir o voo; mas que será daquele que jamais sair de seu ‘galho’? Que esquecer os atributos que possui?

Afinal – lembramos sempre -, qual seria, para ele, o sentido da vida?

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¹ Texto baseado no Conto de domínio público intitulado: ‘O Falcão Que Não Queria Voar’.

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