BONDADE E JUSTIÇA

“Ser bom é fácil. O difícil é ser justo.” – Victor Hugo

Victor Hugo¹ , célebre escritor francês, autor da frase emblemática acima transcrita, encerra um profundo pensamento filosófico que, à primeira vista, pode parecer contraditório. Ora, onde está a facilidade em ser bom e a dificuldade em ser justo? Como traçar os parâmetros entre uma e outra conduta à luz do cristianismo?

Sabe-se que a bondade traduz uma qualidade de quem tem alma nobre e generosa e é naturalmente inclinado a fazer o bem; é benevolente, benigno, magnânimo. Já a condição da justiça retrata a qualidade do que está em conformidade com o que é direito; com a maneira de perceber, avaliar o que é justo.

A dificuldade em ser justo, como adverte Victor Hugo, está justamente no fato de que o ser humano, para enquadrar-se nessa condição, deve ser estrito cumpridor dos deveres que a Lei Divina inscrita na consciêncialhe impõe. Não basta, assim, não fazer o mal; exige-se a ação contínua no bem, com parâmetros de igualdade, com senso de que se deve fazer ao próximo o que gostaria se lhe fosse feito.

Ser justo, por isso mesmo, no cumprimento da invocada Lei Divina, é não subjugar o próximo para atendimento de subterfúgios; é não se alegrar com a miséria alheia; é não “dar de ombros” com problemas que só tocam o irmão ao lado. É, contrariamente, incomodar-se com a dor daquele que não tem remédio; é reparar de imediato a ação equivocada; é providenciar tudo que estiver ao seu (ao nosso) alcance – ao alcance do justo – para que a consciência não lhe cobre qualquer inércia ou má-conduta ao deitar-se no leito ao anoitecer.

Diversamente da prática do bem, que muitas vezes exige o dispêndio material ou a concessão de momentos para a caridade moral, o dever do justo está alicerçado na paz de consciência, somente alcançável quando o Homem age com prudência e moderação em relação ao direito do irmão em humanidade.

Pode-se dizer, por exemplo, que há justiça quando a fome graça na mesa do vizinho e nossos lares estão repletos de farturas? Há justiça quando irmãos são penalizados sem o serviço médico básico, sem a assistência educacional primária, sem o respeito à dignidade humana, enquanto outros sobrenadam os círculos da corrupção que os afogam em si mesmos, prenunciando-os às sentenças da lei de causa e efeito?

Não! Absolutamente não! E Victor Hugo, inspirado na reflexão proposta, permite que nós, neste singelo colóquio com o amigo leitor, analisemos à fundo nossas condutas e nossas omissões frente aos compromissos pessoais e sociais assumidos para nossa evolução. De tudo, aliás, seremos chamados a prestar contas.

Por isso o imortal poeta sentenciou e nós, de nossa vez, repisamos com ele: “Ser bom é fácil. O difícil é ser justo”.

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¹ Victor-Marie Hugo (Besançon, 26 de fevereiro de 1802 — Paris, 22 de maio de 1885) foi um romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta, artista, estadista e ativista pelos direitos humanos francês de grande atuação política em seu país. É autor de ‘Les Misérables’ e de ‘Notre-Dame de Paris’, entre diversas outras obras clássicas de fama e renome mundial.

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