DE PASSAGEM

“Rogando ao Amor Infinito nos proteja na viagem de serviço em processo na terra onde nos encontramos em trânsito…” – Emmanuel ¹

Embora sabedores de que a fatalidade única que nos aguarda é o trespasse do Espírito para o além-túmulo, para a vida espiritual, a vida verdadeira, poucos de nós refletimos e entendemos a sábia lição exarada pelos Amigos do Alto, especialmente a que vem contida nas frases imortais do evangelizador Emmanuel.

Prendemo-nos de tal forma aos nossos bens terrenos que, com grave dificuldade, não conseguimos alcançar que estamos de passagem por esta terra de serviço, como nos diz o benfeitor.

E, por bens terrenos, não nos referimos somente ao dinheiro e à “propriedade” material, que em verdade nos é concedida por usufruto divino. Por eles – pelos bens terrenos – mister expandir o pensamento para uma gama de conjuntos, indo desde os produtos materiais sobre os quais exercemos a posse transitória até o apego muito mais exagerado, que é o sentimento que fixamos sobre as pessoas que dizemos amar.

Sim; ainda que difícil seja a confissão, é incontroverso que bastas vezes nos prendemos às pessoas e aos nossos sentimentos de tal forma que chegamos a exercer uma certa obsessão, quando, também sabemos, ninguém pertence a ninguém. Somos, acima de tudo, irmãos e filhos de um mesmo Pai, ora ou outra caminhando juntos, nesta ou naquela posição familiar e social para nosso melhor aprendizado. Mas, jamais, somos donos ou pertencentes uns aos outros.

Isso não significa, por óbvio, que não possamos ou não devamos nutrir sentimentos para com os entes amados. Alto lá! Uma coisa é o amor despretensioso, que nada clama ou reclama e que é o mandamento maior ensinado pelo Cristo no auxílio e caminhada de todos nós. Outra, bem diversa, é valermos da expressão “amor” para dominarmos ou prendermos as pessoas aos nossos desejos, aos nossos orgulhos e vaidades.

O símbolo do pássaro liberto da gaiola, a nosso ver, é a mais apropriada expressão para a demonstração do sentimento amor. Quem ama, liberta; quem diz amar, mas no fundo não age assim, prende na gaiola frágil das sensações.

Imperioso compreender, na lição exarada por Emmanuel, no contexto do sentimento aos que dizemos amar, que somos seareiros em trânsito, ladeados por Espíritos que, iguais a nós, são carenciados de oportunidades de elevação. Cada qual, por isso, traz suas necessidades, suas aspirações, suas pretensões que, uma vez satisfeitas, obrigam-nos ao passo seguinte.

Dessa forma, a chamada “impermanência” merece nossa atenção para que não venhamos a ser sicários de irmãos nossos, quando, em verdade, devemos caminhar de mãos dadas, até que chegado seja o momento de nos despedirmos uns dos outros, momentaneamente, com um, até breve.


¹ Fonte: livro “Deus Conosco”, de Chico Xavier, pelo Espírito Emmanuel, pg. 325.

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