Nem mesmo a caridade material é capaz de tomar o lugar do afeto sincero, que permite às almas se unirem no amplexo e na aproximação dos corações. Aliás, reiterados momentos, o que buscamos mesmo é tão somente a transfusão do amor fraterno que se dá pela força de um abraço puro, verdadeiro, indestrutível pelas condutas corruptoras do sentimento.
Ainda assim, vemos, dia a dia, irmãos que se alheiam a essa prática tão natural; tão fraterna! Repugnam o ‘tocar o próximo’, como se algo deletério pudesse contagiar-lhes o ‘espírito límpido’.
A sensibilizar essas almas ao contato fraterno, àqueles momentos que nos deixam extasiados com a demonstração do amor de Deus aos homens, rememoramos belíssima passagem vivida pelo emérito ‘médico dos pobres’, nosso amado Bezerra de Menezes.
Ramiro Gama, no livro ‘Lindos Casos de Bezerra de Menezes’¹, narra que o mestre, após emotiva explanação sobre o ‘Livro da Vida’ em uma das sessões de oração na Casa Ismael, deparou-se, rumo à saída das escadas, com irmão em condição angustiante, tendo os olhos marejados de tristeza, a rogar alívio para a fome pela qual passava, juntamente com sua família.
Já à essa época, o caridoso Bezerra sequer possuía o anel de formatura, pois que fora objeto de doação para sanar as necessidades de outra irmã. Olhando os bolsos, igualmente percebeu que não possuía nem um dinheiro, mas somente o bilhete do bonde para voltar à sua casa.
Então, o amado devoto de ‘Maria, Mãe Santíssima’, fervoroso e confiante, conclama o irmão a unir-lhe o pensamento em prece, na certeza de que o Alto haveria de amparar aquela situação que tanto tocava-lhe o coração. Terminada a prece, Bezerra abraça o irmão fraternalmente, pede que ele faça o mesmo com os seus ao chegar no lar, e que aguarde os desígnios Divinos, que não haveriam de faltar.
Aquele abraço, como profusão de energias renovadoras, consoladoras, transmitidas por aquela Alma de elevado escol [Bezerra de Menezes], fora capaz de irradiar no irmão angustiado o alento para prosseguir, para inculcar a esperança, e para vitalizar nele o remédio curador, o fluido gerado pela ação do amor.
Passada uma semana, aquele irmão retorna ao encontro com Bezerra, dando-lhe graças pelo amparo recebido. Narra-lhe que o abraço teve efeito semelhante a alimento material, pois ao abraçar seus familiares no lar – como recomendado -, todos aquietaram-se, deitaram-se, e dormiram sono reparador, como se tivessem ingerido aquele próprio sustento orgânico para seus corpos.
Nessa lição exarada por Ramiro Gama encontramos a mola propulsora para o carinho, para o afeto, para a demonstração de amor ao nosso próximo. Se não temos – ou mesmo que tenhamos – o vintém para a caridade material, não nos esqueçamos que o remédio mais eficaz pode estar, simplesmente, dentro de um abraço.
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¹ GAMA, Ramiro – Lindos Casos de Bezerra de Menezes; LAKE.