HUMANIZAR

Quando consideramos a realidade de nossos dias, onde há tantos “ouvidos de mármore, cabeças de pedra e corações de gelo”¹ dentre nós mesmos, insensíveis à dor própria e alheia, não podemos repelir a urgente necessidade que temos de nos humanizar².

De um lado, os conflitos da coletividade, as dissidências incompreensíveis, os infindos tormentos íntimos; de outro, as manifestações e apelos por um mundo melhor, as súplicas dos oprimidos e deserdados, as sagradas devoções dos mártires do bem…, marcam a faixa de transição pela qual o mundo passa e emerge.

Por isso – e não apenas por isso – humanizar é preciso.

Humanizar no sentido de compreendermos o valor do próximo, seja qual for a sua crença, a sua religião, a sua filosofia e a sua estética, o seu senso de beleza e vida, a sua cor de pele ou ainda sua orientação ou gênero sexual. Afinal, somos todos irmãos, somos Espíritos em evolução e é preciso, mais que nunca, e definitivamente, entender o poder e a essência destas palavras.

Humanizar, também, no despertar de pensamentos para um tempo novo, onde o Bem prepondere sobre o egoísmo corrosivo, e onde o “querer para si” seja sublimado ao “querer para nós”.

Quando “humanos” formos, e quando “humanizados” estivermos, não passaremos mais ao lado de um só enfermo sem que a sua dor nos sensibilize; não mais proferiremos palavras vãs em dardos venenosos; não mais seremos o instrumento das trevas na dissolução da corrente do Amor; e não mais teremos ingratidão pela vida e perante a Vida.

Nesse tempo – um novo tempo que há de vir -, colheremos o fruto do processo da transformação humanitária, na qual saberemos que a felicidade não mais será uma distante luz ao fim do túnel…

Porém, como o Evangelho de Jesus jamais olvidou de nos esclarecer, é importante relembrar, indagando: _ Lá chegaremos – ao tempo e felicidade que queremos -, pelos esforços renovadores, ou somente pelos percalços dolorosos de nossa intransigência, demonstrando que ainda somos os filhos transviados e rebelados perante a Lei Divina?

Pensemos sobre isto, pois, de fato, Deus, é Amor; sabemos. Mas a Lei, invariavelmente, também, é a Lei.
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¹ Xavier, Francisco Cândido, por Espíritos Diversos, livro “Instruções Psicofônicas”, Cap.16 intitulado “Amarga Experiência”;
² humanizar: tornar(-se) benévolo, ameno, tolerável; humanar(-se).

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