JESUS E O CIRENEU

A figura do cireneu é atribuída, historicamente, a Simão, responsável por auxiliar Jesus a carregar a cruz às costas no percurso que culminaria com a crucificação.

Nascido na província romana de Cirene, consta do Evangelho de Lucas que Simão retornava das atividades do campo e, por já conhecer Jesus, estava a admirá-lo no momento tortuoso, quando, então, fora escolhido pelos soldados romanos para caminhar com o Cristo até o Gólgota, suportando, também, o peso do madeiro infamante.¹

Resignado, não há registros de blasfêmia, insulto ou contradição ao comando que lhe fora imposto, denotando que Simão fora o testemunho da lição de solidariedade exemplificada por Jesus.

Mais que se imortalizar como o cireneu que acudiu o Mestre nos momentos do flagelo, o rude camponês jamais poderia conceber que seus atos registrariam fatos imortais e que indicariam normas de fraternidade a toda uma humanidade, presente e futura.

De fato, nas lides da desesperança, no enfrentamento ao desconsolo dos sofredores, não é incomum encontrarmos cireneus que renunciam às próprias comodidades, aos seus momentos de conforto e segurança, para estender mão amiga e acolhedora aos que se encontram em estágio expiatório.

São ciosos, aliás, que o momento do infortúnio é passageiro, prova de superação por parte dos que a ele estão submetidos. Mas, para os que auxiliam, são momentos únicos de aprendizado, de júbilo ao coração, e de contemplação com a Divindade.

A cruz imposta a Jesus, mais que a concretização do martírio, haverá, um dia, de converter-se em testemunho diário do amor ao próximo. Podemos, devemos e, quiçá no porvir, quereremos, renunciar a tudo que é vã utopia, para sublimar nosso espírito e dar socorro àqueles que sofrem.

Sejamos, assim, cireneus e, não, cruzes.

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[1] Lucas 23:26;

² Cristo e o Cireneu, por Ticiano Vecellio, pintor renascentista italiano [1477-1576].

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