Um mundo de emoções vibra em nosso espírito através da música. Ficamos tristes, românticos, alegres, eufóricos, saudosos, ou mesmo, inconsequentes. Dançamos, na chuva ou no salão, em dupla, grupo, ou enfrentando a solidão.
Ora essa! Quem nunca se deixou embalar ao som de uma canção?
A música, de fato, sempre exerceu papel inspirador nos nossos atos, no nosso dia a dia, ditando condutas que, às vezes, reproduzimos até mesmo de forma inconsciente.
Basta notar que em tempos de ritmos acelerados, com acordes pesados, é comum ouvirmos, em melodia, incitações ao sexo, ao álcool, à violência, ao despudor e, nessa sintonia, presenciarmos uma multidão inconsciente reproduzindo verbetes que, racionalmente, jamais o fariam.
É que a vibração das cordas impulsiona-nos e, quando percebemos, estamos lá, dançando, cantando, ‘sei lá o quê’ e ‘sei lá pra quem’.
Nessa profunda reflexão, às vezes me questiono sobre a música celeste. Inquiro-me sobre o que ouvem os espíritos que habitam paragens que estão além da grosseira matéria terrena.
E, como que a responder-me, dita o espírito Rossini¹: “Uma dissertação sobre a música celeste! Quem poderia disso se encarregar? Que Espírito sobre-humano poderia fazer vibrar a matéria em uníssono dessa arte encantadora! Que cérebro humano, que Espírito encarnado poderia dela apreender as nuanças variadas ao infinito?…Quem possui, nesse ponto, o sentimento da harmonia?…Não, o homem não está feito para semelhantes condições!…Mais tarde?…bem mais tarde!…” ²
Faz-se claro, assim, que a música celeste está para além dos nossos sentidos e sua beleza ainda é incomensurável porque nós mesmos vibramos numa desarmonia de sentimentos e desejos.
Mas, considerando que o ‘…espírito produz os sons que quer, e que não pode querer o que não sabe…’³, Rossini destaca que quando nos é dado deleitar nas delícias das harmonias superiores, o êxtase nos toma e a prece entra em nós; o arrebatamento nos transporta para as esferas elevadas do mundo moral, como se vivêssemos uma vida superior à nossa e quiséssemos viver, para sempre, assim.
Então, podemos imaginar que aquela canção que nos comove a alma, que nos eleva os sentimentos mais puros, talvez seja, em prelúdio, as estações da música celestial in altum ducit, isto é, conduzindo-nos para o Alto.4
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1 Gioachino Rossini – compositor erudito italiano, autor de 39 óperas [1792-1868];
2 Kardec, ALLAN – Obras Póstumas – IDE, 27ª Ed. – 2008;
3 Idem supra;
4 Canção e música foram utilizadas como sinônimos, considerando-se a linguagem coloquial;
5 Pintura Mediúnica – Chant Spirituel (A Musica Espiritual) pelo espírito Ivan.