Vislumbrando a Cruz do Cristo, um instintivo pavor se arvora em nosso coração; um gesto impulsivo de repulsa avulta em nosso ser, pois a dor e a morte é o que conseguimos respirar num sobressalto da visão.
Porém, o martírio do Gólgota e o símbolo da infâmia humana, não têm, para o Divino Cordeiro, senão a lição para todos nós acerca da imortalidade e da ascensão da alma para Deus.
É preciso, para alcançar esse raciocínio, ampliar nossa visão para além da matéria, para além do imediatismo que nos choca os sentidos.
A Cruz, com sua expressão infinita, é Jesus a nos rememorar, sempre e sempre, que os nossos martírios, que mais ora menos ora também se apresentarão, devem servir de ponte luminosa para a nossa redenção e nossa regeneração.
Na cruz da provação o homem tem a oportunidade de experimentar os valores virtuosos que o convidam a caminhar com o Eterno, com o Altíssimo. Com ela – a nossa cruz -, cada qual tem o ensejo de transformar os espinhos que ferem em generosas flores que perfumam.
Assim não fosse, com perfeita razão olharíamos o madeiro do sofrimento com as angústias do perecimento. Mas, como Espíritos infinitamente caminheiros para o Bem, somos convidados a olhar de mais alto, para o horizonte que resplandece.
Talvez, ainda por esse momento, nossas palavras sejam incompreendidas para muitos corações amigos, que perpassam pela transitória existência entendendo, ilusoriamente, tratar-se da única e fatal vivência. Mas, não! Oportunamente ressoa a morte com o seu poder transformador, a nos revelar o que só ela – a própria morte – é capaz de fazer, pois o ser imortal, vendo-se lucidamente vivo no plano espiritual, haverá de confrontar os valores que conhecia, e os que necessita reconhecer…
Eis porque somos, desde tempos imemoriais, chamados a melhor analisar os “porquês” e os “para quê” de nossas experiências. Contudo, infelizmente afinal, se não abrirmos os olhos ou os ouvidos para o que se faz perene e persiste sempre, somente um símbolo material, como a cruz de nossa própria provação, poderá fazer por nós, o que insistimos, em vão, refutar…