Muitos que se debruçam ao estudo das Sagradas Escrituras, como fariseus de outros tempos, prendem-se à letra fria da Lei e, por isso mesmo, sem compreender o fundo da mensagem consoladora, tecem críticas acerbas pelo fato de Jesus, o Filho Ungido, ter-se dado em particularidades com publicanos e pecadores.
Mas a resposta a esses pontuadores é límpida e clara, além de estar notadamente registrada nos Evangelhos apostolares, a saber: “Os sãos não têm necessidade de médico, mas os que estão doentes. Não vim chamar os justos, mas pecadores.” ¹
Nessa expressão eternizada o Mestre foi enfático ao revelar o caráter da sua missão: instruir e auxiliar os transviados da Lei Divina a retomarem o caminho da ascensão espiritual.
De fato, o contexto em que Jesus viveu em nosso plano terreno era marcado por injustiças atrozes, perseguições, miséria, incredulidade (embora os judeus fossem adeptos ao monoteísmo, isto é, a crença em um único Deus, mas o Deus de Israel), preconceitos de castas e também por enfermidades (como a lepra), de forma que o Médico Divino, portador da Lei de Amor e de Justiça, incessantemente aplicou a máxima do “amar ao próximo” no auxílio dos que mais precisavam.
Estes, os mais necessitados, contavam-se entre os doentes do corpo e da alma, representados pelos leprosos e enfermos de toda sorte, e pelos obsidiados, viciosos na lascívia, no ódio, etc; igualmente, estavam entre os pecadores, que praticavam a maldade, o furto… por força da ignorância e da inconsciência.
Notemos, contudo, que se Jesus disse ter vindo para eles – pobres, doentes, pecadores, etc. – ao ressaltar que os “sãos e justos” não têm necessidade de médico, não quis que os mesmos estivessem desamparados; o que seria notória contradição aos seus ensinamentos de amor sublime. Ao proferir tal ensinamento extraímos em reflexão profunda que o Mestre tornou claro a necessidade do reajuste, da regeneração, da transformação, do arrependimento, que seria possível por seu intermédio, ou seja, por seu exemplo e por sua palavra, aos que realmente se conscientizassem do erro e desejassem, com humildade, o novo caminho.
Demais disso, os orgulhosos e egoístas, que se punham acima da própria Divindade, e que honravam o Criador apenas com os lábios, não estavam no “momento” da regeneração. Deveriam aguardar o tempo certo em que seus corações endurecidos estivessem aptos a aceitar o nobre sentimento do Amor.
Entretanto, os séculos se passaram e a Mensagem permanece… Jesus, o meigo da Galileia, continua convidando os infelizes à rota do alvorecer. Mas será que nossa geração, o Homem de nossos tempos, está apto a aceitar o convite da ascensão? Ou deveremos, em cruzes de dores e infelicidade, suportar novos milênios à frente?
Modifiquemo-nos, meus irmãos, se assim compreendemos a palavra do Cristo, pois se ele nominou-se o “Mestre” que curaria e instruiria, também prenunciou: “os tempos são chegados”.
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¹ Marcos 2:17