O QUANTO MENTIMOS?

De um modo geral não nos consideramos mentirosos; quase sempre, repelimos o pejorativo e, se constatamos a fraqueza para a verdade no próximo, lá estamos a aponta-la, a fim de que o irmão se realinhe nos quadrantes da honestidade.

Contudo, em um sincero juízo de avaliação introspectiva, sondando as raias de nossa própria consciência – onde escrita está a Lei Divina (Questão 621 de O Livro dos Espíritos) -, por certo seremos inclinados a reconhecer que, ao menos umas mentirinhas, fazem parte de nosso contexto diário.

Mentirinhas essas que, imperceptível e sutilmente, podem se transformar naquele vício moral e, de sua vez, algozes de nós mesmos. Daí ser imperioso verificarmos se não estamos habitualmente mentindo sobre a conduta dos outros, ou praticando a auto-mentira, cujo intento é camuflar as nossas próprias imperfeições.

Ora, não estamos cá com o despropósito de apontar vícios a quem quer que seja! Não. Aprendemos, junto à Doutrina do Bem, que não termos o direito de apontar defeitos senão em nós mesmos, salvo quando a análise da conduta do próximo nos sirva de proveito e lição para nossa regeneração, como bem ensina o Espírito São Luís, ao tratar do tema ‘Indulgência’, no Cap. X, de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

A proposta reflexiva, assim, visa trazer à tona, num franco diálogo íntimo, o processo de burilamento do espírito, considerando as elucidações de Santo Agostinho exaradas na Questão 919 de O Livro dos Espíritos, sintetizando que o Espiritismo fora ditado com único intento: levar o homem ao autoconhecimento.

Mas, como pode o ser humano, detentor do livre-arbítrio relativo, conhecer a si mesmo senão através do mapeamento e identificação dos vícios morais dos quais ainda é possuidor? Grandes ou pequenos, evidentes ou ocultos, certo é que o progresso espiritual nos convida a sermos sinceros e honestos, senão com os outros desde já, ao menos e de antemão, conosco mesmos.

Afinal, a verdade que combate a mentira e a Verdade que aplaca trevas, serão sempre a linha única que nos levará à sublimação, donde Sócrates, por propagação de sua sabedoria, fora feliz em nos convidar: ‘Conheça-te a ti mesmo’.

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* Texto inspirado no documentário (Dis)Honesty: The Truth About Lies, disponível em Netflix.

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