“OUVIDOS DE MÁRMORE, CABEÇAS DE PEDRA E CORAÇÕES DE GELO”¹

Não é de hoje que notamos – com mais evidência em nós mesmos, no processo de autoanálise – que as lições trazidas para nossas reflexões ecoam num vazio sem fim. Embora talhadas, com o esmero e amor intraduzíveis por aqueles que velam por nossas existências evolutivas, não sabemos, no mais das vezes, sorver efetivamente o ensinamento que poderia minimizar ou extirpar nossos deambulares em sofreguidão.

A par disso, dia a dia os oportunos chamados de renovação são ditados; as condições de auxílio e regeneração somam-se incontáveis; os pedidos de socorro, aparentemente ocultos, não se findam; os asilos lotados, os abrigos em ‘febre’, os orfanatos com crianças em polvorosa, clamam por braços, mãos, abraços e ombros solidários.

N’outro prisma, os evangelhos, as bíblias, os testamentos religiosos das várias crenças, aditadas às vozes de clérigos, espiritualistas, espiritistas, e proclamadores da “Boa Nova” redentora, bradam em bom e alto tom para que mudemos nossos passos rumo à rota do Bem Eterno… e nós, entretanto, não ouvimos, não refletimos, não damos azo ao sentimento.

É como se tivéssemos, com isso, “ouvidos de mármore, cabeças de pedra e corações de gelo”. Equiparamo-nos e assemelhamo-nos aos preditos por Jesus que são capazes de ter olhos de ver, mas não ver, ouvidos de ouvir, e não ouvir.

É porque, ainda e, infelizmente, estamos a ceifar no matagal da ilusão, enquanto a campina resplandecente aguarda-nos a presença sem calendário. Trabalhamos a pedra bruta das sensações materiais, em que pese a pedra polida não fazer parte de nossa construção interior; com raras exceções que se fazem notar à evidência.

Bem por isso, em tempos onde avulta a ignomínia humana – como se os tempos de um cristianismo nascente não tivesse fim -, constatamos o púlpito da tirania e da intolerância não mais em destaque isolado no bradar da voz, mas ‘compartilhado’ no dedilhar da tecnologia em nossas mãos, às avessas, às ocultas, às infâmias…

Imprescindível, pois, que ouçamos novamente a “voz que clama no deserto”, a dizer-nos: “arrependei-vos!” E modificai-vos em vossos passos, em vossas ações.

Ou assim procedemos, ou aguardemos dias vindouros de amarga desdita, que não nos faltará. Afinal, a “semeadura é livre, mas a ceifa, obrigatória”.

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¹ Título extraído, por reflexão e analogia, da mensagem contida no Cap. 16 de o livro “Instruções Psicofônicas”, de Chico Xavier, por Espíritos Diversos, intitulado “Amarga Experiência”.

² Imagem: O Pensador, do escultor francês Auguste Rodin.

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