PARTILHAR

“Dá ao que não tem daquilo que há na tua mesa.”

Os Essênios formaram, ao tempo do Cristo, uma comunidade fraterna que visava unicamente viver, em retidão, os ensinamentos que estavam em consonância com a Lei Divina: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Eram descendentes de outras escolas de sabedoria e sabiam, portanto, que algo mais, além da vida material, existia. Tinham consciência dos efeitos decorrentes de uma ação ou omissão transgressora e, daí, a prescrição anotada acima, demonstrar com razão o ato fraterno de dar ao que não tem, daquilo que estava em sua mesa.

A lição de “partilhar o pão” está expressa, também, nas máximas evangélicas, quando o rico avarento¹, deixando de dividir as “migalhas” com Lázaro, ao ser recolhido nos planos reais da comprovação da imortalidade, ou seja, no além-túmulo, sofre todos os amargores e a ardência incessante do fogo que acusa a consciência eivada do mal.

Pede o rico, nessa ocasião de suplício, que o Senhor envie Anjos a esclarecer seus familiares para que não errassem também, partilhassem o pão com os necessitados, e não padecessem, enfim, com a “sede” que lhe era imposta. Mas a resposta foi incisiva: têm eles os profetas e a Lei; se não creem naquilo que já está ofertado às suas almas, de que adiantaria enviar outros?

Ainda n’outro prisma, aparece-nos, em comunhão com nosso raciocínio proposto, a figura da pobre senhora, a viúva, que põe seu óbolo no cofre, dando do seu necessário para auxiliar os que nada tinham. Por essa ocasião, Jesus, que estava a analisar a cena, disse aos seus discípulos: Digo-vos em verdade que essa senhora doou muito mais que os outros que por aqui passaram, pois até do pouco que possuía, dispensou aos indigentes.²

Conjugando as três situações acima relacionadas, deduzimos com lucidez que a fraternidade é chama que deve ser acesa e alimentada em nossos corações. É a filha da Caridade, sem a qual, não há salvação para nossas almas.

Dar ao que tem pouco; amparar o que menos pode; auxiliar carenciados de paz e amor, não nos esquecendo, contudo, de que nem só de pão o homem vive e viverá. Preciso é, saibamos discernir a necessidade de cada um dos tutelados e, dando pão ao que tem fome, não nos olvidemos de dar a nossa luz ao que caminha em trevas.

Afinal, agindo assim, em fraternidade e compaixão, viveremos a lição: “Aquele que ama a seu irmão permanece na luz e nele não há nenhum tropeço”. (I João 2:10.)

——-

[1] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI – Não se Pode Sevir a Deus e a Mamon, “Parábola do Mau Rico”;

² Idem, Cap. XIII – Que a Vossa Mão Esquerda não Saiba o que dá a Vossa Mão Direita, “O Óbolo da Viúva”.

Deixe um comentário