PRIVILÉGIOS

Ressoam das vozes vindas de irmãos menos venturosos que a Providência Divina se faz em favorecimento de uns, quando em detrimento de outros. Justificam, com isso, que Deus não é justo, nem misericordioso, pois, se assim fosse, não permitiria tantas desigualdades, tantas misérias, em contraposição a tantos privilégios que parecem abençoar somente alguns dos filhos seus.

É pena, entretanto, que essas mesmas vozes infelizes, já atingidas pelo flagelo da dor, detenham-se somente sob o ponto de vista particular de seus interesses, olvidando-se da lei maior de ‘causa e efeito’.

De fato, considerando a justeza e a justiça Divina, não há privilégios…

Os que assim não compreendem, esquecem-se que, no mais das vezes, somos artífices de nosso próprio caminho e, se não fomos causadores das nossas aflições por consequências de atos presentes, por certo o fomos numa circunstância anterior.

Esquecem-se, igualmente, que àqueles aos quais atribuem o predicado de ‘privilegiados’, por trazerem no semblante a serenidade da paz conquistada, quase sempre enfrentaram escolhos que os levaram a mutação de conceitos e dogmas que os retiraram dos processos da dor.

Souberam, por assim dizer, burilar o espírito, extirpar vícios, renunciar as prodigalidades da alma, em busca da sintonia espiritual.

A exemplo da vida do apóstolo Paulo, muitos creditam tão somente as maravilhas que Deus fez através de suas mãos, deixando de avaliar, injustamente, que o apóstolo se viu conduzido a uma reforma moral que o apresentou de ‘mãos limpas’.¹

Essa, de fato, a expressão que devemos buscar compreender e por em prática. Para sermos merecedores da benevolência de Deus e, quem sabe, instrumentos através dos quais ele operará maravilhas, é preciso que estejamos de mãos limpas, coração puro, língua adestrada.

Ao invés da ira, portanto, cultivemos a compreensão e a paciência, aliadas, sempre, à persistência no caminho do bem; único, afinal, que nos levará à verdadeira felicidade.

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[1] Xavier, Francisco Cândido – Espírito Emmanuel, livro Caminho, Verdade e Vida; Cap. 74.

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