“Muita gente há que ainda levará séculos e séculos até criar condições de poder sofrer com proveito”. – Manoel Tibúrcio Nogueira¹
É naturalmente compreensível que temamos a dor e que queiramos seguir nossa caminhada alheios a ela. O corpo, aliás, em harmonia, olvida a senhora retumbante que, quando se apresenta, clama cuidados e reparos para que tudo torne à paz do organismo.
No entanto, apresentando-se ela aos nossos combates diários, bastas vezes é recebida com o revoltismo e a repulsa, a rebeldia e a infelicidade que agravam a tormenta do homem em prova e expiação. O que nos faz lembrar e refletir acerca da oração em júbilo do Mestre de todos nós, quando, em síntese, afirmou: “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados” (Mateus 5:4).
É fato que todos nós, palmilhando o terreno árido da Terra em ascensão, passamos por aflições que nem sempre culminam no consolo prometido. A razão, é mister esclarecer com escoro na Lei de Amor inscrita em O Evangelho, não está na falta do consolo predito; está na ausência da resignação, ou melhor, no fato de não sabermos “bem sofrer”, já que, antes de refletirmos e ponderarmos nossa renovação perante a dor, quase sempre a maldizemos e nos rebelamos.
Por isso, bem poucos são os que sabem sofrer, no sentido de fruir e extrair o ensinamento que as dores trazem.
Não é interesse de nosso Pai misericordioso que as aflições e tristezas reinem, mas, se elas existem, é preciso compreender, por força da inexorável Lei de Causa e Efeito, somada ao nosso livre-arbítrio, que há uma causa precedente chamada ação; ação equivocada que partiu e continua a partir de nós mesmos.
Assim entendendo, num martírio transitório para a justa reparação, é que a dor tem sido predita pelos Espíritos como “bendita corretora de nossos atos infelizes” para uma nova e ajustada senda de felicidades.
E, ainda que nos custe séculos e séculos para o aprendizado, não olvidemos de avaliar com a consciência desperta a lição de Pedro, o discípulo e apóstolo de Jesus: “O amor cobre a multidão de pecados” (I Pedro 4:8), pois se a Lei é justa, não se pode esquecer que Deus, acima de tudo, é Amor (I João 4:8).
Dessa forma, não sendo possível afastar o cálice amargo, confiemos e entreguemos nossa jornada à vontade d’Ele, que tudo sabe… e tudo vê.
¹ Extraído do jornal “Vida Espírita”, de Uberlândia, Minas Gerais, de dezembro de 1989, por ocasião do passamento de Jerônimo Mendonça Ribeiro, o “Gigante deitado”.