Pouco refletimos mas, com frequência, cometemos grave equívoco aos ensinamentos que remontam à transitoriedade da existência. É que temos o hábito, quase inconsciente, de apoderarmo-nos das coisas, das pessoas, das funções, valendo-nos prioritariamente do pronome possessivo ‘meu’, ou do pronome pessoal ‘sou’, para aproximarmo-nos – ou apegarmo-nos – a algo que, em verdade, não nos pertence.
Nesse contexto, verbalizamos: “O fulano é meu amigo; este é o meu carro; aquela é minha esposa, ou meu esposo; minha casa, meu patrimônio; minha profissão; meus filhos; minha vida”. Igualmente, quanto ao estado da pessoa: “sou casado; sou advogado, ou médico, ou engenheiro; sou político, pois sou prefeito, ou vereador, ou deputado; sou isso, sou aquilo…”
Em verdade, considerando as instruções espiritualistas, que elevam o pensamento acima da grosseira matéria que nos chumba ao solo, compreendemos que ‘não somos’, e nada nos pertence, pois, apenas, ‘estamos’.
Ora, se a presente existência nada mais é que um ‘piscar de olhos’ ante a eternidade que o espírito imortal tem pela frente, como nos qualificarmos ‘de algo’, ou proprietários ‘de alguma coisa’ que, dentro em poucos minutos não poderá mais nos ‘pertencer’? Ou que, igualmente, não nos será permitido exercer? De fato, basta um ‘sopro da vontade divina’ e as coisas mudam de lugar… e o carro, a casa, o patrimônio, não mais ‘serão’; os filhos, o cônjuge, os amigos, não mais ‘pertencerão’; as funções dignas de tantas honrarias e titulações, enfim, não mais nos qualificarão…
Lembremos, por nota digna de exemplo, o Espírito André Luiz, que fora médico enquanto vivente na crosta terrestre mas, alçado à Colônia ‘Nosso Lar’, após anos na região umbralina, reformou o próprio pensamento na condição de faxineiro aprendiz. Lição esta que o Amigo do plano espiritual imortalizou em nossas consciências aturdidas, ansiosas por ‘ter’ e ‘ser’, olvidando-nos, sempre e sempre, que a aquisição maior está no aproveitamento da experiência que ‘estamos’ vivenciando.
Assim, meus irmãos de ideal, em profunda convicção transitória, registramos: ‘não temos’ e ‘não somos’; apenas, ‘estamos’.
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