TESOUROS EM DESVALOR

“Amém vos digo que nenhum profeta é aceito em sua pátria.” – Jesus (Lucas 4:24)

Estando Jesus em Nazaré – cidade onde cresceu e viveu a maior parte de sua vida -, adentrou a sinagoga¹ em um dia de sábado e, após proferir a leitura e explicação das escrituras do Profeta Isaías, sentiu a rejeição emanada nos semblantes dos incrédulos que lhe ouviam. Daí, asseverou: “…nenhum profeta é aceito em sua pátria.”

Tendo sido expulso, por isso, e quase precipitado de sobre os cumes da periferia, dirigiu-se à Cafarnaum, onde residia a família de Simão Pedro. Lá, igualmente procurou o templo de oração, mas, com outro cenário, obteve de todos a admiração e atenção para ouvi-lo, sendo-lhe oportunizado, inclusive, a cura de um endaimoniado, isto é, um obsidiado.

Neste momento de libertação, o espírito infeliz que provocava a obsessão gravíssima (no caso, subjugação), reconhecendo a autoridade do meigo nazareno, bradou: “Vieste destruir-nos? Sei quem tu és: O santo de Deus”


Essa passagem narrada pelo evangelista Lucas, ainda hoje, infelizmente, se vê retratada nas relações sociais. O irmão que nos é apresentado, aquele que pode ser detentor de valiosas virtudes e conhecimentos a auxiliar-nos, quase sempre é repelido ou desmerecido, quando não ignorado e precipitado para fora das instituições ou das nossas convivências, por acharmos não ser ele o possuidor dos predicados que valorizamos.

N’outros lugares, n’outras vizinhanças, no entanto, aquele a quem desmerecemos possui notável valor e consequente oportunidade de labor.

E nesse novo cenário receptivo, o repelido de outrora, mas acolhido de agora, desenvolve os talentos inerentes à sua alma, auxilia com benevolência a recente família que o cerca, e protagoniza trabalhos dignos de nota e amparo aos mais necessitados. Como não bastasse, além disso, as próprias trevas lhe reconhecem o devido valor, pois almejam a sua queda no serviço que sabem ser frutífero.


Não obstante tudo isso, a lição maior que fica é a de que Jesus não se perturbou pela rejeição de seus conterrâneos, nem se abalou diante do esbravejar dos espíritos obsessores. Tratou de ir ao encontro do trabalho do Amor, curando enfermos “aqui”, “ali” ou “acolá”, vivenciando e exemplificando a máxima que ainda hoje estamos por aprender: “amar ao próximo, como a si mesmo”.

Entretanto, se há a lição maior, há também a reflexão do contexto: na posição de sinceros aprendizes do Evangelho, acolhemos ou repelimos o próximo que de nós se acerca? Cultivamos tesouros, ou o desvalor?

Pensemos… afinal, aquele a quem repelimos hoje, poderá – ou poderia, se o tempo já se foi… – ser o enviado que tanto pedimos ao Alto, para nos auxiliar a jornada.


¹ Lugar onde se reúnem os israelitas para o exercício do seu culto.
² Lucas 4:34

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