“Nós somos todos poeira de estrela”. (Carl Sagan)
A Astronomia, enquanto ciência que nos revela o Universo, e também enquanto sétima e maior de todas as ciências, não se limita à capacidade de desvendar ao homem a magnitude do misterioso cosmos. Além, muito além, essa magna ciência exerce a função – senão primordial, com efeito, secundária – de expor o próprio ser humano à sua real condição frente ao conjunto da Criação.
De fato, não é de hoje que nos impomos à pretensão de seres absolutos. Acreditamos que somos deuses e que o verdadeiro Deus, em realidade, não passa de uma criação das vertentes religiosas para subjugar a massa aos dogmas sacramentais. E, nessa afrontosa posição, gozamos da vida como se fosse a única – ou a última – e desprezamos qualquer limitação aos nossos desejos bestiais.
Guerreamos por sentimentos feridos, seja no íntimo do lar, ou na extensão das nações que temos por inimigas. Corrompemos… criamos leis que se adequam aos nossos intentos, desconsiderando os efeitos das próprias normas como reflexo no irmão mais próximo. Tolhemos o direito à vida, malgrado o mais sagrado de todos os direitos seja, em verdade, o de viver.
Entretanto, para expor em nudez vergonhosa a condição do homem na Terra, nem mesmo precisamos invocar a filosofia espiritualista que consagra que Deus é “a inteligência suprema, a causa primeira de todas as coisas.” Basta, com as reverências que apontamos no destaque do introito, anotarmos as conclusões conscienciosas de renomados astrônomos que, como Carl Sagan¹, compreenderam à fundo que “Nós somos todos poeira de estrela”.
Obviamente que no contexto da grandeza da Criação, diante desse vastíssimo e infinito Universo – e multiversos – o ser racional passa a considerar que é pequenina obra de arte com a qual o Pai de justiça e bondade ornou com as potências da alma, além de registrar a inexorável Lei em sua consciência, que é, notadamente, um pensamento íntimo.
E, se somos “poeira de estrela” – aqui entendido no aspecto filosófico-espiritual – por qual razão exacerbamos nosso orgulho e nosso egoísmo no trato como os irmãos de humanidade? Com que petulância consideramos que a cor de pele, a classe social, a orientação sexual, a formatação familiar, o poderio (transitório) financeiro… possa ser motivo de divisão, subjugação e humilhação?
Ah, se o Homem curvasse sua cabeça e certificasse que existe um mundo microscópico, invisível, que é essencial para sua existência! Ah, se ele alteasse sabiamente a fronte para reconhecer as vastas criações celestiais! Ah se, ao menos, ele “viajasse para dentro de si”… poderia, assim, baixar o tom da voz estridente para dar graças ao bom Deus por ser, ainda que infimamente, uma “poeira de estrela”; e, embora ínfima, essencial para compor a grande tela da Criação.
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¹ Carl Edward Sagan (Nova Iorque, 9 de novembro de 1934 — Seattle, 20 de dezembro de 1996) foi um cientista, astrônomo, astrofísico, cosmólogo, escritor e divulgador científico norte-americano.