No limiar de um novo ciclo; nesses anos que passam e recomeçam; na primavera que se finda e no calor do verão que vem chegando, reluz o Natal como oportuna condição de meditação à renovação. São os tempos áureos para o ‘pensar com Jesus’, onde a alma ressequida da desilusão da cultura própria dos mundos enfermos, busca saciar-se na limpidez e na pureza da Luz que vem do Alto.
Então, como se algo nos tomasse de assalto, como se as fibras mais rígidas do corpo material – esse corpo transitório que a terra nos tomará no momento fatal – se estremecessem, surge a emoção que enaltece o Espírito endurecido a percorrer novos caminhos.
É que Jesus, no momento simbólico, brilha com mais intensidade na Alma errante, tão perturbada pelas agruras e seduções que viciam e desatinam. É Ele, novamente, a convidar ao endireitamento dos passos que elevam às paragens celestiais; é a Inspiração a nos mover e a suportar a Cruz da libertação; é a Fonte Viva da clarividência angelical.
Nesses momentos de devoção em que nos curvamos à reflexão do Amor do Cristo, a paz deixa de ser utópica; a virtude passa a ser uma esperança; a fé se alia à razão; e, por consequência, a vela pequenina da Caridade clareia o submundo da escuridão em erro passageiro. E o Profeta Maior, cândido, lampeja em nossas mentes renovadas: “Ave Luz!”
Essa mesma Luz, essa Harpa Eterna, clareou os caminhos de Paulo na estrada de Damasco; transformou o apóstolo no renascer de si mesmo, tal como renovou o íntimo de Madalena, a Maria que se desvelou por Jesus. Despertou Pedro no pátio de Pilatos, ao cantar do galo pela terceira vez, e exaltou João, o Evangelista, na definição de que ‘Deus é Amor’.
Eis que se faz, assim, também para nós, o renascer, o momento sublime da concepção intraduzível. Jesus nasceu? Onde? Quando? – perguntou Pedro de Camargo, o Vinícius¹. Ao que respondemos: Sim, o Meigo Nazareno nasceu no íntimo de nossa Alma, quando matamos o desejo obsceno; quando humilhamos o dragão da discórdia; quando abrimos as portas do coração ao entendimento; quando abraçamos o irmão de humanidade como ‘irmão de eternidade’; quando, enfim, fomos ao encontro da manjedoura para a regeneração de nós mesmos.
Por isso, suspiramos enlevados: em meio à luz, renascemos…
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¹ Texto: “Cristo nasceu? Onde? Quando?” (Pedro de Camargo – Vinícius)