Certa feita, em diálogo íntimo com Jesus, após discorrer sobre suas angústias, suas frustrações, suas feridas e dores amargas, indagou Simão Pedro: “_Mestre, como fazer para não sofrer, como tenho sofrido?” Ao que Jesus, bondosa e serenamente tornou: _Para não sofreres Simão, com tens sofrido, é imperioso que te desapegues das circunstâncias, dos fatos, e das pessoas.¹
Eis a senha para não acalentarmos o sofrimento em nossos corações, que é decorrente das ásperas convivências humanas…
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Talvez não tenhamos notado, ainda, mas quando lemos nas letras do Evangelho sobre o desapego “dos bens materiais”, é natural inclinarmos a reflexão para o desprendimento do dinheiro e dos bens corpóreos. No entanto, a letra evangélica ultrapassa nosso raciocínio imediato, pois o ensino visa educar e libertar o Espírito, que é o ser imortal e eterno. Daí, em nos prendendo ao sentido restrito, não nos alertamos para o fato de que devemos nos desprender de tudo o que é eminentemente próprio do “terra-a-terra”.
Nossas dores, é fácil constatar, nem sempre estão vinculadas às perdas financeiras; em muito maior número, se prendem aos desfalecimentos do coração. Assim, ora é o amigo que deserta da jornada; n’outro ponto, é o familiar intempestivo; ali é o dissabor da convivência social; aqui o cônjuge que se revela em malfeitor. E, como consequência, colhemos os espinhos de todas essas circunstâncias.
Ensina-nos Jesus, porém – como fez a Pedro -, a desapegarmo-nos de tudo isso, de tal modo que não venhamos a abalar nosso Espírito. Tal como o leito do rio que deixa as águas seguirem o curso natural para o mar, devemos também deixar que a “correnteza” do tempo leve consigo as infelizes situações transitórias, porque, enfim, tudo passa.
Desapegar das pessoas e dos fatos significa não darmos a supervalorização aos acontecimentos infelizes que nos acometem, pois tudo é relativo no contexto da Vida; absoluto, só Deus o é. E, quando damos somenos importância aos acontecimentos, consequentemente menos grave e espinhoso se nos aparenta o problema, e o fardo, e a dor, e o desapontamento, etc.
Por isso, não nos esquecendo das eternas palavras de Jesus, se é que não queremos sofrer em nosso infortúnio, eis, novamente, a senha: DESAPEGAR.
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¹ Baccelli, Carlos Alberto, pelo Espírito Alexandre de Jesus. Livro: Ele é o Caminho.