A vida, compreendida como a lavoura da existência que o homem cultiva, assemelha-se, é verdade, a um conjunto de estações, onde ele encontra, ora a beleza primaveril ou o calor do verão, ora a estiagem outonal a pressagiar o rigor do inverno.
Assim, nas estações da primavera ele é como ave graciosa, que voa na amplidão da alegria, desconhecedor de muitas dores que o rodeiam, por fruir, tão somente, a graça que pensa estar exclusivamente em si. Parece, embora a flor que exala o perfume, que o egoísmo, aí, tem passagem marcada, e muito pouco se atenta aos espinhos que ameaçam a marcha.
Em estação veranil o esforço começa a ser-lhe exigido, e o suor, fruto da dedicação, mostra-se como líquido sagrado do trabalho, nem sempre valorizado e, muitas vezes amaldiçoado. E aqui, também, costuma ele olvidar um ponto capital: tendo capacidade, deve cultivar o pão do próprio alimento e crescer às custas do aprendizado e do labor; afinal, estagia em evolução numa escola-produção, em que colhe o que semeia, dia a dia, no campo aberto da vinha.
Mais adiante, momentos se apresentam em que as folhas começam a cair e esse estágio é o outono inóspito. As cores e as belezas são ameaçadas pela obscuridade de negras nuvens e rudes provas que lhe marcam a jornada. Nessa hora, é convocado ao uso de atributos imortais, como coragem, perseverança, fé, paciência…
Um tanto mais agravada a jornada, o inverno rigoroso bate-lhe à porta para trabalhar ainda mais a alma, como o oleiro experiente pode ser convocado para a mais bela arte no vaso, ainda rudimentar. A dor, sublime depuradora, desperta-lhe à reflexão, à pausa, ao valor do verdadeiro pão: o da vida espiritual.
Quando menos espera, no entanto, após superar a aspereza invernal, vê novo ciclo aproximar-se, uma nova primavera anunciar-se…
Há, para surpresa, uma condição virtuosa: embora as flores voltem a brotar, não se vê tal qual o semeador imprudente de outrora. Sabe, agora, que precisa valorizar a beleza, o perfume, e o tempo vital de cada rosa, sem esquecer que a experiência da jornada obriga-o a cultivar, o mais possível, o jardim da presente estação, que também passará.
Eis a Vida, afinal, em suas múltiplas condições, mostrando ao homem, eterno aprendiz, que a Natureza-mãe está sempre a lecionar, para que ele possa aprender, viver e igualmente transmitir o aprendizado divino.