Em 1859 Allan Kardec traz ao mundo a obra “O que é o Espiritismo?” e, nela, princípios de ordem fundamental para a compreensão dessa doutrina que é, num tríplice aspecto, filosofia, ciência e religião.
Já no Capítulo I o mestre lionês trava intenso debate com um Visitante, pois este busca a permissão de Kardec para assistir a uma das reuniões em que se dão as manifestações dos Espíritos, considerado que ele – o Visitante – está a escrever uma obra magistral em que fará juízo crítico do Espiritismo.
Kardec, no entanto, com seu impecável senso racional e de lógica, refuta as pretensões do Visitante experimental – e equivocado – tecendo-lhe considerações que, até então, o comparecente desconhecia, mormente a sua própria incapacidade desajuizada para criticar uma Doutrina que sequer conhecia.
De fato, como poderia um completo desconhecedor do Espiritismo, apenas com uma sessão experimental, fazer crítica de seus fundamentos? Repeli-la, se não abarcou-lhe os horizontes? Dizer-se ex-professo, isto é, conhecedor de causa, se não se debruçou ao estudo da obra em todos os seus aspectos?
Demais disso, Kardec, em tom ponderativo e de elucidação, torna vívido ao homem inglório, debatedor sem causa nobre, que criticar – que significa julgar, apreciar – nem sempre pauta-se em tom negativo, já que a crítica pode, pois, ser aprobativa ou desaprobativa, malgrado exija-se, inquestionavelmente, conhecimento profundo do crítico para tecer considerações sobre algo, ou alguma coisa.
Sublime lição do mestre francês, que também sob o aspecto moral tem suas sérias implicações…
Quantos de nós, aliás, tecemos críticas – em tom desaprobativo – a algo, ou a alguém, sem conhecer-lhe as causas ou mesmo os motivos da ação? Quantos de nós, em preconceito arraigado, olvidamos a pausa para a necessária reflexão e já tecemos comentários desditosos acerca dos passos de irmãos que, sequer, conhecemos as intenções, ou sofreguidões?
Somos, por isso, qual o Visitante a Allan Kardec… combatedores de algo que, sequer, conhecemos. Somos juízes e pré-julgadores dos nossos irmãos, vendo o cisco no olho alheio, em completo esquecimento da trave que está no nosso. Pior! abandonamos por completo a lição crística de que na medida em que julgarmos, seremos, também nós, julgados.
Apenas por essa condição, parece-nos que nos encontramos em completo grau de inconsciência, sem juízo valorativo, sem efetiva demonstração de lógica, já que desponderamos os efeitos de causas tão evidentes.
Cabe, por ocasião, e enfim, a chamada evangélica aplicável a todos os momentos e a todas as situações, antes do pré-julgamento reprochável: “…tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão.” (Mateus 7:5)
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