De certa forma somos habituados a gabarmo-nos por termos conquistado o apogeu de uma civilização, onde os povos gozam dos aspectos peculiares à vida intelectual, artística, moral e material. Os avanços e os feitos da humanidade aí estão para dar suporte a essa teoria que, todavia, não passa de pretensão ainda não realizada.
De fato, podemos dizer, no sentido preciso da palavra, que somos povos civilizados, somente por termos assumido a titularidade de grandes descobertas que nos fizeram avançar na marcha inexorável do progresso?
Não, ainda não…
Seria sensato reconhecer, contudo, num lance ao conjunto do passado, que somos povos esclarecidos, cuja maturidade da civilização está, somente, numa primeira fase, ainda distante daquela que é inerente às nações que possuirão o verdadeiro desenvolvimento moral, já livres dos vícios que a desonram.
Reconheceremos, então, um povo verdadeiramente civilizado, quando não houver nutrição por ódios e preconceitos; não houver subjugação imposta aos mais necessitados; não houver impedimento de acesso a todos, indistintamente, à educação de plenitude, quer seja na formação do intelecto, quer seja na formação da moral, como conjunto de princípios que caracterizam a virtude.
Dir-se-á, em arremate, que estaremos na condição civilizada, sob o pensamento do mestre Allan Kardec, se houver ‘…menos egoísmo, menos cupidez e menos orgulho; onde os hábitos sejam mais intelectuais e morais que materiais; onde a inteligência possa se desenvolver com mais liberdade; onde haja mais bondade, boa-fé, benevolência e generosidade recíprocas; onde os preconceitos são incompatíveis com o verdadeiro amor ao próximo; onde as leis não consagrem nenhum privilégio e sejam as mesmas para o último, como para o primeiro; onde a justiça se exerça com menos parcialidade; onde o fraco encontre sempre apoio contra o forte; onde a vida do homem, suas crenças e suas opiniões sejam melhor respeitadas; onde haja menos infelizes e, enfim, onde todos os homens de boa vontade estejam sempre seguros de não lhes faltar o necessário.’¹
De posse desse roteiro inquestionável, sigamos, pois, com destemor, a marcha civilizatória que, breve [assim desejamos], aplacará as chagas da ignorância que ainda nos chumbam aos primeiros passos da infância evolutiva.
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[1] KARDEC, ALLAN; O Livro dos Espíritos, ‘Civilização’ – Questões 790 a 793.