Após um dia de desalento quanto a condição da criatura humana sobre a Terra, coloquei-me a recordar da bela passagem descrita pelo Espírito Hilário Silva¹ que, pela mediunidade de Chico Xavier, narrou aquele que foi o encontro, em momento de êxtase, do missionário sacramentano com o Mestre de todos nós.
Diz Hilário que ao aperceber-se em local de belíssima e indizível paisagem, Eurípedes dá-se conta de que o Mestre ali também se acha, porém, nota que lágrimas escoam de seus amantíssimos e luzentes olhos.
Diante do angustiante quadro, o terno Professor questiona ao Cristo de Deus por três vezes o motivo do choro comovente, chegando mesmo a sugestionar se o Avatara² chorava pelos descrentes do mundo, ao que recebe, por força da última indagação, como resposta: – ‘Não, meu filho, não sofro pelos descrentes aos quais devemos amar. Choro por todos os que conhecem o Evangelho, mas não o praticam…’
A recordação dessa passagem comove-me profundamente! Fico a imaginar Jesus, depois de todo martírio já suportado em suas pegadas deixadas pela Terra, ainda sofrendo por nossa insistente, relutante, e recalcitrante ignorância. Ignorância que muitas vezes é cultivada conscientemente por nós, pois, ao revés dos homens que conviveram aos tempos do Cristo, HOJE, por força das inúmeras lições reveladoras, temos a capacidade de compreender as mensagens sem qualquer véu que as obscureça.
Refletimos, na atualidade, sem graves conflitos religiosos, acerca da reencarnação, da ‘lei de causa e efeito’, do progresso inexorável, da ‘lei de caridade’, ou ainda na sublime condição do Amor que esparge em nós através do fluido cósmico universal.
Ainda assim, ladeados por irmãos conhecedores do ‘Livro da Vida’, ditos responsáveis pelo encaminhamento da Mensagem a todos os necessitados de crer, de amar, e de perdoar, convivemos com a desditosa e maculada interpretação do Evangelho, pois somos notórios pregadores do verbo, enquanto míseros reformadores de nós mesmos.
Falamos para o próximo como se nossa missão fosse salvá-lo, quando, em verdade, continuamos desavisados em nossos atos mais habituais, olvidando-nos que a nossa tarefaé reformar nosso espírito; o ser inteligente da Criação.
Por isso, refletindo sobre a peregrinação abnegada do Cristo, conclamamos os irmãos à adoção de uma postura harmoniosa entre o pensar, falar, e agir, de modo que o tema intitulado seja, um dia, objeto de lembrança longínqua. Assim não sendo, uma vez mais, perguntamos: – Até quando?
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¹ A vida escreve, pelo Espírito Hilário Silva, psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, ed. FEB. Em 18.7.2013.
² Avatara ou Avatar: do sânscrito Aval, que significa “Aquele que descende de Deus”