BANDEIRA RELIGIOSA

Nos círculos extremistas da religiosidade em ação equivocada vemos pregadores e propagadores que se dizem detentores da “verdade”; dizem-se, igualmente, os portadores do Verbo e sustentam que, fora das suas palavras e dos seus pontos de vista, não há salvação. Todos aqueles, assim, que os contrariem o absolutismo do pensamento, estão destinados ao suplício eterno.

Esses, no entanto, esqueceram-se de anotar a passagem crística onde Jesus alerta João, o discípulo amado, quando este diz ter impedido um alguém de expulsar daimones¹ em Seu nome, porque não os seguia. Disse-lhe o Mestre: “Não o impeçais, pois não há ninguém que realize prodígios em meu nome e, brevemente, possa falar mal de mim. Pois quem não é contra nós é por nós. Porquanto, quem vos der de beber um copo de água porque sois do Cristo, amém vos digo que de modo algum terá perdido a sua recompensa.”²

Sublime lição exortada ao entendimento humano! Por ela compreendemos claramente que a Caridade não tem bandeira exclusivista, pois o bem é sempre o bem, porquanto provém da fonte pura que é Nosso Pai, que está nos céus. Ninguém se arvore à titularidade da Grande Verdade, pois que a nenhum Homem ela está delegada.

Aliás, se nos determos aos sublimes exemplos que desceram à Terra, veremos homens e mulheres – verdadeiros Anjos da Caridade – adeptos das mais variadas bandeiras religiosas, que praticaram o bem e o Amor ao próximo acima de qualquer seita separatista.

Acaso uma Madre Tereza questionava ao pobre miserável qual sua religião? São Vicente assim o fazia? Agostinho de Hipona? Chico Xavier? E o Maior exemplo, o Cristo, acaso perguntou a casta ou a condição formal, para atender e amparar?

Somos nós, os Homens, que deturpamos e adulteramos a essência da lição que há milênios tem sido trazida à Humanidade terrena; somos nós os ignorantes que afastamos a prática da renovação, por nos prendermos às convenções dos subterfúgios; somos nós, assim, que entravamos o nosso próprio progresso, custeado e expiado às duras provas que nos perseguem ante a Lei de Causa e Efeito.

Não há opção, senão o entendimento e a transformação íntima! Não há saída, senão a aceitação de que o Pai é Um só, e nós, uma só família! Não há, enfim, bandeiras religiosas, senão uma só bandeira: a do Amor como meta, e união dos povos.

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¹ Daimones: deus pagão, divindade; gênio, espírito; mau espírito, demônio;

² Marcos 9:38-41.

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