Que dizer da Fé, senão a tradução do sentimento que impele o homem à conquista da Verdade? A confiança que o estimula na superação dos obstáculos materiais e próprios dos vícios morais? A crença que permite suster a esperança em dias melhores e na contínua prática do bem, como fontes supremas de sublimação do Espírito? Eis a Fé, condição indispensável para que o homem transponha as barreiras que intencionam prendê-lo às inferiores posições.
Mas essa virtude não pode e não deve ser avaliada e praticada às cegas. Não. O homem, ser racional, portador de inteligência, busca na razão a lógica das coisas, de forma que também a Fé deve passar pelo crivo que resulta na compreensão, pois, de fato, não basta crer ou ver; é imperioso, sobretudo, compreender.
Quando cremos sem o fio da razão, equiparamo-nos a animais que agem por instinto. Ao contrário, sob o controle racional, cremos porque compreendemos, e é justamente escorados na razão que agimos tendentes à este ou àquele fim.
Consciente dessa máxima inexorável foi que o mestre Allan Kardec prescreveu: ‘Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade’.¹
Essa Fé inabalável converge-se sobre o próprio homem, quando acredita ser capaz de superar as dificuldades aparentes; quando alimenta suas forças para a solução das intempéries; diz-se, assim, da Fé Humana. Mas também há a Fé Divina, onde o homem fundamenta sua confiança no Ser Supremo, n’Aquele que tudo vê, que tudo comanda, que é a Causa de tudo que existe.
Nas árduas tarefas do dia a dia, somos constantemente convidados ao exercício da Fé, desejando e esperando por dias de paz, dias de fraternidade, dias de alento aos corações. Não temos dúvida de que esse dia chegará; queiram ou não os que pensem o contrário, pois o progresso é inexorável.
Contudo, aos que aguardam o glorioso ‘tempo vindouro’, a paciência, o trabalho incessante e a humildade se aliam à Fé. Afinal, ‘…nos extremos lances de nossa vida, em quem depositamos nossa confiança?’ Em Deus? Então, que Ele nos guie ao caminho almejado, impelidos pela razão e sabedoria de nossas ações.
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[1] Kardec, Allan – O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX, ‘A Fé Religiosa. Condição da Fé Inabalável’ – pg. 187.