“… Quando aí estive entre vocês, sentindo a pesada vestimenta que sustentava meu Espírito nas lutas do mundo, por vezes estremeci a minha fé em sua base mais sólida; e me equivoquei por isso.
Não tinha, é certo, a lucidez e o entendimento que ora tenho. Embora as lições advindas da literatura espírita que me chegavam às mãos, quando a dor me sobressaltava e as aflições oprimiam o peito, indagava, no obscurecimento momentâneo da fé que deveria ser sempre raciocinada: será mesmo que após esta vida, há outra vida? Será que essas dores que me avassalam terão fim? Como certificar-me, senão e somente, através da fé?
Digam-me, honestamente: Quem já não teve dessas dúvidas infelizes?
Mas o tempo, em sua serena condução, após o correr dos anos e os invernos restauradores, trouxe-me de retorno ao plano que ora me situo. Venho, portanto, para registrar em simples carta, aos que ficaram, minhas impressões…
Saibam que os ditos ‘mortos’ também sentem saudades. Ora, porque haveriam os Espíritos de perderem o sentimento se não perdem a essência do seu corpo? Sentimos, sim, saudades, mas contemplamos as relações num outro prisma. Tenho, agora, a certeza do reencontro, como no retorno de uma viagem a um país estrangeiro.
Concebo, também, que o sentido de família não é tão restrito. Antes, dedicava-me aos meus, achando que eles “me” pertenciam. Hoje, sou apresentado à grande família universal, a família espiritual, onde os laços sagrados de permanência e duração, são os do amor.
Tomo nota do tempo, em minha sincera dedicação e oportuno aprendizado. Vejo no Bem e na Caridade a salvação do Espírito e o preenchimento dos sentidos que só essas virtudes podem dar. Reconheço em Jesus, sem qualquer vacilo, o caminho, a Verdade, e a Vida.
Quem assim me lê, pode querer conceder-me a tiara de santo. No entanto, longe de me tornar o santo que sei que não sou, continuo o mesmo Espírito, com os mesmos valores, e as mesmas deficiências, pois os vícios e as virtudes morais são o nosso quinhão, o nosso patrimônio, que nos acompanham além-túmulo para certificar o nosso inferno, ou o nosso céu interior.
Luto, ainda, para ser o “homem novo”, aparando o preconceito, o orgulho e egoísmo tão patentes em mim. Mas se santo não sou, confesso que estou renovado em esperança e muito mais consciente de que Deus é misericórdia infinita e de que a vida prossegue sempre.
Encerro, pois, conclamando: sejam bem-aventurados; creiam; amem; vivam no estrito cumprimento do dever moral… e o Mestre os fortalecerá nos degraus da caminhada.
Estejam na Paz do Cristo!”