Certa feita, em represália ao frontispício do amor estampado pela doutrina da esperança, do consolo, onde se lê ‘Fora da Caridade Não Há Salvação’, foi-nos apresentada a seguinte incitação à contenda: ‘Mentira! Em verdade, fora da fé é que não há salvação.’.
Após minutos de reflexão, chegamos à conclusão de que inúmeras vezes as trevas se valem de subterfúgios sorrateiros para criar cizânia e discussão entre os homens invigilantes, que cedem ao convite da problemática formal, sem se aterem à essência do ensinamento cristão.
Ora, por óbvio que a fé é mola propulsora de nossas ações! É, de fato, preciso confiar na Providência Divina, na certeza de que o Alto jamais nos desamparará nos carreiros de nossas existências. A fé, aliás, precisa ser concretizada em Deus e em nós mesmos, pois também é curial que confiemos em nossa capacidade de ação, de contributo na parcela que nos cabe. Diz-se, por isso, que a fé é humana e divina.
Lado outro, ponderemos: qual o valor da fé inerte, que nada pratica no convívio com o próximo; no dever de amenizar a dor e a penúria dos que nos cercam? Sem a caridade, qual o sentido do mandamento vivenciado pelo Cristo: ‘Amai o próximo como a si mesmo’? Acaso, somente a fé seria capaz de atender o comando de Jesus?
Invoquemos, em nosso auxílio, a lógica, a razão, em plena atividade da inteligência, que é atributo do Espírito. Se Jesus entendesse que somente a fé bastaria à salvação do homem, qual o sentido de suas pegadas e ensinamentos que levaram-no ao martírio entre os homens?
Devemos, com respeito a opiniões diversas, repelir toda invocação à ‘fé cega’. Cabe ao homem subir os degraus do pensamento para a sua própria transformação moral. Não há bem algum na omissão e na negligência de uma fé que nada pratica em prol do semelhante.
Mister desatar os nós da falácia que nos acomoda à inação, pois o próprio Cristo ensinou: ‘Quem não é comigo, é contra mim’; que pode assim ser compreendido: abracemos hoje a cruz do caminho, na prática do bem ao nosso irmão, para que, no grande amanhã, sejamos coroados com o galardão do sublime triunfo, concedido àqueles que souberam fruir e laborar nas oportunidades concedidas.
Obremos, pois.
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