Existe um tipo de miséria que não mata somente pela desnutrição do corpo. Essa miséria, a qual, aqui referimos, vai além dos corpos esqueléticos que definham pelo desequilíbrio social; vai além da desventura dos povos famélicos que são subjugados pelas imposições político-econômicas; vai além, inclusive, da mortandade que a própria fome causa, e da qual somos todos sabedores, pois, esses mortos–vivos, vivem logo ali, no país ‘ao lado’ – ou na casa ao lado.
Referimo-nos a uma miséria que assola a todos nós, sejamos ricos ou pobres, brancos, negros ou amarelos, heterossexuais, homossexuais, bissexuais, ou assexuais, espíritas, católicos, protestantes, ateus ou céticos… Trata-se da miséria espiritual.
Intoxicado por essa deplorável infestação, nosso espírito vive o caos e a tormentosa transição.
Míseros na alma nós almejamos tudo o que é ilusório e traduz ostentação. Somos orgulhosos e egoístas, opostos a tudo que nos contraria e desagrada. Afinal, ter é poder; quanto mais, melhor; dinheiro não dá, mas compra felicidade. Porém, nem mesmo o mais rico dos ricos está isento das intempéries do sentimento, das tristezas, das desilusões, das amarguras e das doenças.
Qual alma conturbada que, num átomo de luz promissora, não daria tudo o que possui pela verdadeira felicidade, pela paz de espírito? E, no entanto, é a felicidade possível neste mundo de provas e expiações?
A essa pergunta há, de fato, uma resposta notável: sim! No mundo em que vivemos, podemos sair da miséria espiritual e alcançarmos a felicidade com uma fórmula reformadora, bastando: 1) – termos a posse do necessário; 2) – termos a consciência tranquila; e, 3) – termos fé (raciocinada) no futuro. ¹
Posse do necessário impõe não almejarmos mais do que efetivamente necessitamos materialmente. Consciência tranquila é fruto do axioma fazei ao próximo o que gostaria que te fosse feito. Fé no futuro, por fim, é ser humilde e reconhecer que acima de nós reina um Deus bom, que é justo, que é único, que é, por tudo que vemos, vivemos e concebemos, o Grande Arquiteto do Universo.
Então, reformemo-nos, a nós mesmos, e a miséria espiritual, por certo, inexistirá. ²
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¹ Kardec, ALLAN – O Livro dos Espíritos; Questão 922 – 182ª Ed.; IDE – 2009.
² Os termos ‘espírito’ e ‘alma’ foram utilizados como sinônimos, embora Allan Kardec os diferencie em seus ensinamentos doutrinários. Assim, espírito enquanto desencarnado e, alma, enquanto encarnado.